Deu-se o esperado. O Senado do Paraguai aprovou nesta sexta (22) o
impeachment de Fernando Lugo. O mandato do presidente foi passado na lâmina por 39 votos a 4. Dois senadores ausentaram-se do plenário. Do lado de fora, aguardava pelo resultado uma multidão de camponeses pró-Lugo.
O julgamento político seguiu o ritmo do toque de caixa. Aprovado na véspera pela Câmara –76 votos a 1— o impeachment passou no Senado também com folgas. Para que a guilhotina descesse, eram necessários 30 votos.
Acusado de “mau desempenho” no exercício da Presidência, Lugo absteve-se de comparecer ao Senado. Acompanhou a sessão desde o gabinete presidencial, no Palácio de Governo. Foi representado por um time de cinco advogados.
Dispunham de duas horas para fazer a defesa. Usaram uma hora e 45 minutos. O advogado Adolfo Ferreiro, que comandou o grupo, abriu sua exposição pedindo aos senadores que concedessem “uma prorrogação para a defesa, um prazo razoável”. Algo que atenuasse a atmosfera de linchamento político.
Os Senadores rejeitaram o pedido do advogado. Embora favorável ao impeachment, o senador Carlos Fillizzola, ex-ministro do Interior, também rogou aos colegas que adiassem o veredicto por 72 horas. Argumentou que, oferecendo mais tempo a Lugo, o Senado evitaria danos à imagem internacional do país. Foi ignorado.
Em pronunciamento feito na quinta (21), nas pegadas da decisão da Câmara, Lugo dissera que aceitaria o resultado do julgamento, enfrentando “todas as consequências”. Nesta sexta, o presidente falou à Rádio 10 Argentina. De novo, disse que acatará o resultado. Mas declarou que pretende açular a resistência.
Referiu-se ao processo político nos seguintes termos: “É preciso acatá-lo, é um mecanismo constitucional, mas a partir de outras instâncias organizacionais certamente decidiremos impor uma resistência para que o âmbito democrático e participativo do Paraguai vá se consolidando.”
Considera-se vítima de um golpe? “Não é mais um golpe de Estado contra o presidente, é um golpe parlamentar disfarçado de julgamento legal, que serve de instrumento para um impeachment sem razões válidas que o justifiquem.” Vai à poltrona de presidente o vice
Frederico Franco.
- Atualização feita às 20h21 desta sexta (22): consumado o impeachment de Fernando Lugo, o vice Federico Franco já foi
empossado como novo presidente do Paraguai. Foi recebido no Senado sob aplausos. Ao discursar, pregou a união nacional. Lugo também
discursou ao despedir-se da Presidência. Disse que “a democracia foi ferida profundamente, de maneira covarde, de maneira aleivosa.”